terça-feira

A casa queimada, as lágrimas perdidas, os malditos Clowns e outros personagens


Crianças brincam com as chamas da casa que pega fogo lentamente na noite de neve, mas o vento se torna mais forte e as mães as chamam para dentro. Depois de algum tempo de vento as chamas se apagam e o que resta é uma casa queimada e fria. Entrando pela porta da frente consegue-se imaginar o que outrora fora um corredor branco cheirando a tinta fresca. Andando mais um pouco encontro a antiga estátua grega que me fez escolher aquele lugar, ela olha para o lado de olhos fechados, intacta. Posso jurar, que naquela manhã ela virou o rosto para mim, olhou-me nos olhos e pediu para eu ficar, mas se eu disser agora, ninguém acreditará.
E todos os meus planos para aquela casa? E as estantes de livros antigos? A música calma e o incenso que queimaria noite e dia? E as crianças que iam correr fazendo aquele barulho agradável e incomodo que só crianças sabem e podem fazer?
Não importa mais, as chamas queimaram as fotos do futuro e talvez o que me faz sofrer é saber que horas depois de eu sair por aquela porta, Clowns e outros personagens entrarão na minha moradia e farão dela um palco de circo. Outros olharão para a estátua e talvez ela faça o mesmo que fez comigo ou então se manterá de rosto virado e olhos fechados.
Lágrimas correm pelo meu rosto, toco a parece negra e na esperança de sentir o cheiro de tinta fresca levo o meu nariz mais perto, mas o que sinto é o cheiro de queimado. Lentamente percorro os corredores e quartos, tomando o que não foi queimado, o que é meu por direito. Coloco tudo em uma mala e saio pela porta que entrei, desço a soleira, dou alguns passos e olho para trás uma ultima vez antes de me começar a andar na noite de nevasca. Paro e penso "Essa casa nunca foi minha, eu apenas a aluguei, qual o motivo de tanto sofrimento por algo que nunca nem meu foi?" 

Nenhum comentário:

Postar um comentário