quarta-feira

Um dia diferente


As coisas corriam para trás. Dá janela daquele ônibus, ela assistia todos os dias às mesmas cenas, com algumas particularidades, mas as mesmas. Primeiramente ela subia, pagava o motorista e desejava bom dia com o seu sorriso habitual, alguns homens olhavam-na, outros faziam comentários sobre sua beleza. A mãe cuidava do filho, os namorados de mãos dadas, os vendedores em suas barracas, tudo corria para trás. E todos os dias ela tentava lembrar em qual ponto de ônibus saltou o sorriso. Tudo sempre parecia o mesmo. Ela se levantava, fazia sinal para descer, outra pessoa sentava no seu lugar. Mais um objeto substituível indo a algum lugar. Mas naquele dia, desceu do ônibus, olhou para os lados, viu os rostos concentrado em suas próprias bolhas de sabão. Olhou para frente e do outro lado da rua, uma mulher cortava o cabelo que logo cresceria. Finalmente se encheu de coragem e decidiu que hoje haveria uma coisa diferente. Hoje, alguém daquele mesmo ponto olharia para direção daquele salão de beleza e notaria que aquele não era um dia qualquer. Sem muito pensar, para não sentir medo, ela esperou o próximo ônibus estar o mais perto possível e se jogou na frente dele. A visão ficou embaçada, mas antes perder a consciência com a cabeça no asfalto, pode observar os rostos escandalizados no ponto de ônibus e do outro lado a mulher que cortava o cabelo, com a mão nos lábios. Finalmente, um dia diferente. 

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